sexta-feira, 8 de maio de 2015

Viver de novo de amor

By Pinterest - Ilustration: Claudia Fratto/Luiza Brione
Um tempo depois de nos encontrarmos sós sem a companhia do ser amado é penoso se relacionar de novo, mesmo que furtivamente, porque além de toda a punheta que é superar uma fossa, não temos paciência, e às vezes sobra um pouco de medo de passar por tudo novamente, então pensamos: pra quê?

Nesse momento, nós já reencontramos a felicidade, mesmo estando sozinhos. O tempo passa na correria dos dias atribulados; nas noites mais intensas de álcool e conquistas e nos fins de semana carregados de opções de prazer. Então não dá tempo, não tem espaço pra sequer pensar em se apaixonar de novo, mas aí que rola uma viagem ou qualquer outra situação que nos mantém distraídos e completamente embebidos de desejo para vir à tona aquela vontade oculta, na verdade é preciso tão pouco: um olhar do outro ou o papo do outro ou o beijo do outro, e tudo fica fácil e dá vontade de novo de viver de amor.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Seguir

Seguir um caminho que eu não quero. Caminhar em direção às ruas, pessoas, coisas que não reconheço mais na minha vida.
Completamente depressiva, um verdadeiro caco.
Nem sombra do que eu fui um dia.
A vida insiste em seguir, apesar de eu continuar triste. Muita ambição minha querer que ela pare, mas não podia dar um tempo? Não podia ir com mais calma para que eu recupere o fôlego?
Hoje é sexta. Pra uns, dia de cerveja gelada, pra mim, dia de espera.
Me sinto sozinha, num limbo de silêncio que não acaba nunca.
O telefone não toca e quando toca, não me deixa feliz, só me causa medo de ser mais um convite que devo recusar porque é um mix de vontade e perda sem fim.
Medo de perder a ligação dele, medo de encontrar a felicidade sem ele.

terça-feira, 5 de abril de 2011

3.1



A casa dos trinta é a casa que eu nunca quis morar: mal assombrada, escura e com infiltrações.

Tô sobrevivendo aos trinta desde o ano passado e não vi graça nenhuma nisso. Não acho engraçado descobrir o tempo passando no meu rosto, cabelos e etc. Vejo graça na vida que te prega peças e é necessário passar por issocom bom humor além de experiência, e se não a encararmos com doçura quem vai querer dividi-la conosco?!

Todo abril é assim, essa atmosfera neurótica, por vezes rebelde aqui dentro e peço desculpas antecipadas.

Sinto-me como uma guerrilheira que queria tanto matar alguns milicos, mas que perdeu a hora e pegou o embate no fim. Isso tem a ver com autocrítica e com a forma com que fui criada, eu, e toda a nossa geração, essa geração dos fins do 70, início dos 80, a famosa geração coca-cola que nasceu, cresceu e viveu à sombra dos que lutaram contra a ‘Ditadura’ e a favor das ‘Diretas Já!’ – um monte de conclusões expressas em noticiários e documentos históricos.

Ou seja, a gente cresceu, demorou, mas amadureceu, e nunca talvez tenhamos aprendido a dar valor pro sentido de liberdade ou o motivo pelo qual existe o tempo, o tempo de envelhecer, de fazer 20, 30, 40, 100 e o que fazer com ele porque nada muda, só o mundo que dá voltas. Cada vez mais me sinto aprisionada, numa liberdade forjada, porque pra mim, da adolescência pra cá, liberdade se constitui de fazer o que eu quiser na hora que eu quiser, como fugir para encontrar o namorado ou se hospedar clandestinamente num hotel 5 estrelas aos 15 ou ainda ir e vir com saldo no banco, de bar em bar ou na ponte aérea. E se tivermos grana e tempo pra fazer o quisermos, estamos muito satisfeitos né?!

Vivemos no oba-oba porque o pior já passou, já temos a tão sonhada “democracia”, porque votamos independente de raça, credo ou sexo e elegemos nossos governantes e é o suficiente. É o suficiente? Talvez, mas não somos livres porque o que conta ainda é a instituição família, a sociedade, e continuamos atrelados a ela com as suas instituições morais, o preconceito, e apesar de termos saído daquela ditadura, existem outras em seu lugar, como a da moda, da beleza, do consumo. Fazemos parte disso, somos meio alienados, meio politizados e pouco culturizados, amargando essa luta de fazer a vida todos os dias com dignidade, correndo atrás dessa felicidade sonhada. Futuro baby, futuro.

É isso que é ter trinta e poucos pra mim, mas é continuar sonhando também e eu sonho, sonho em ter uma família, apesar de que a cada dia ela pareça mais distante; sonho viver do que escrevo; sonho em dar uma vida melhor à minha mãe, mesmo que seja à distância porque viver com ela está cada vez mais difícil; sonho em amar e ser amada, e vou vivendo, caminhando, escutando e me apoiando no amor dos amigos verdadeiros, nas minhas neuroses diárias que só a Aina entende, e principalmente me sentindo 3.1, três mulheres numa só: uma que sou eu mesmo, a segunda que me enche de alegria com sarcasmos e sensualidade, e a terceira que é a verdade mais sórdida do que eu ainda não consegui ser, apesar de todo o exemplo de uma família tradicional que vai morrendo à míngua a cada dia.

Felicidade eu carrego dentro de mim por teimosia porque amo a vida apesar de tudo, e amo as pessoas que me cercam cada vez mais, mas isso não tem nada a ver com idade, tem a ver com ser Marilyn mesmo, e que se dane a casa dos trinta, porque a única coisa boa é que hoje eu me sinto mais racional, mais sabedora de como lidar com minhas lutas internas, mas isso eu poderia ter percebido antes, em qualquer idade se não estivesse tão distraída com as imposições da sociedade, com aquele blá blá blá de encontrar alguém, casar e procriar, talvez se não fosse por isso, hoje a casa dos trinta seria um lar claro, aberto e amplo para receber a todos.

quinta-feira, 3 de março de 2011

A Gente Sabe


A gente sabe o que tem que fazer nessas horas que o coração acelera, nas horas que a cabeça tá com caraminhola, nessas horas que dá um medo de perder, de desestimular, de fugir, de prender, amordaçar... A gente sabe. Sabe que precisa de uma distração, de que precisa pensar primeiramente em você e que deve parar de olhar só para os olhos do bem-querer e olhar para o que está em volta. É difícil. Cinema, teatro, shows, bares, amigos e tantas opções estão aí para te fazer companhia, mas você só quer a dele, quer que ele te convide pra sair, quer que ele tenha a programação do fim de semana à mão para você dois curtirem juntos e quer fundamentalmente que ele te olhe com cara de tarado e te coma por inteira.

É assim que eu me sinto e é assim que muitas como eu se sentem quando apaixonadas. Passado frisson do primeiro olhar, da primeira transa, dos primeiros dias, tudo o que a gente quer é uma resolução, e haja pressa nessa perspectiva de se saber apaixonada e bem quista por quem te apetece. Cansam-se os programas de bar pra se ver, conversar e se querer; cansam-se as caminhadas noturnas; as transas furtivas em Mini Motéis da zona comercial da cidade, o que se quer mesmo é segurança, é troca, convivência, pelamordedeus, convivência de lençóis e camas próprios, banho a dois, filminho e pizza, e família, e rotina, e cão, gato e papagaio, tudo pra se ter de verdade uma relação.

Enquanto estamos na fase das andanças, sejam elas de conhecimento, de primeiras impressões, somos sugadas para o imaginário de ter algo calmo, tranqüilo, verdadeiro. Não queremos o desespero do celular que não toca ou dele queimando no bolso nos fazendo querer ligar; não queremos mais aquela sensação de que tudo pode mudar no próximo segundo; não queremos mais aquela despedida de “a gente se fala”, parecendo algo tão casual e descartável, só queremos o que é perene, certeiro, direto. Ser mulher além de ser difícil é neurótico e ter uma relação então, é coisa de doida masoquista, pode acreditar!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Quem Poderá Me Salvar Agora?




Nem Krishna, nem Deus, nem Zorro podem me salvar desse perigo que vivo: Se fujo, morro. Se corro, me atiro. Se grito, desespero. Entrei na montanha-russa das emoções e mais uma vez a viagem foi totalmente diferente, loopings horrorosos, quase vomitei, chorei. Não estava preparada. Fiquei presa nas sensações que ela provocou. Quis me livrar do vazio que me habitava e agora sinto tudo, vejo coisas, doloridas e belas, vacas amarelas, ideias mirabolantes, cupidos e anjos na minha janela sem ter poder nenhum em minhas mãos para controlá-las.

Nos horários mais impróprios elas vêm. Pensei que pudessem vir de mansinho, aos pouquinhos, e não esse furacão que me descabela, me faz engolir poeira, me aterroriza várias horas no dia e estou longe de ter um plano B, uma carta na manga.

Não tenho saída, nem coelho na cartola ou ajudante vadia. Uma varinha de condão resolvia, ou melhor, seria um feitiço no caldeirão pra saber se passa e ele fica e me ama um bocadinho e vai ser meu destino, alguém legal, não o tal, mas a minha soma pra vida.
E tô aqui meio perdida, meio ‘da vida’, sempre no cio, em desvario completamente entregue e com água nos pulmões de tanto que mergulhei de cabeça. Tô ligando direto, pedindo conselho, dividindo meus anseios, doida pra mostrar meus sinais-rachaduras-cicatrizes-palavras, todas aquelas que me vem à boca e eu calo, mas que estão bem aqui, no coração.

E o que é que eu faço agora enquanto o lobo não vem?

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

"Amorando"


Um amigo me contou uma novidade pelo facebook: - “Estou amorando!”.
- “Espera aí. “Amorando”? Eu disse.

E de súbito ri desta versão sem o N. Ele nem percebeu, mas achei curioso, diferente. De repente o N nem precisa ser usado para que fantasiemos outro tipo de relacionamento: o “amorando”. E se Martha¹ me visse agora ela repetiria o que li em uma de suas crônicas: “A criatividade dos amantes é infinita”.

E se ao excluir o N, excluíssemos do relacionamento o negativo, a prisão, o insulto, o platonismo. E se ao excluir o N tudo fosse bom e recíproco?

É, porque de acordo com o Google, “amorar” significa dar cor de amora aos objetos, além de enamorar-se e dentre outras coisas, fugir de casa... Então vamos fugir do que entendemos por namoro, que é uma relação moderna de experimentação sentimental ou sexual, e que dependendo do seu grau pode-se estabelecer um noivado, um matrimônio... Quem sabe!

E já que a paixão está dentro deste contexto vamos mantê-la como a fera que dilacera nosso coração, come nossa razão, e selvagem, nos atrai para o perigo de cometer os atos mais impulsivos, mais ousados, mais contraditórios, a fim de dar cabo de um desejo voraz e intermitente. E que dela sejamos reféns, transformando sua fome em um ciclo que uma hora dorme criança afetuosa, serenando e amando calmo, doce e, em outra vagueia desassossegada por entre os corredores escuros de um sentimento que, de tão inexplicável, virou encantado, e que absoluto nos torna, nos faz ser amorado(a) de alguém.
Estou “amorando” e isso significa que eu não evito nada, muito menos a paixão. Não existem mais jogos de azar, a gente sempre ganha se joga limpo, aberto, sincero. Digo mais sim: sim para um chope na segunda, para cama, mesa e cômoda. Por que não?! Exercito-me na corda bamba, no pisar delicado por sob as asas de borboleta, não temo a queda ou o desequilíbrio, apenas continuo caminhando. Não mistifico meus atos, descomplico, explico. Falo mais com olhar, desnudo mais com o olhar. Desejo muito mais do que deveria e me dou esse direito. Também não me prendo e não prendo mais ninguém. Se mexer, gemo. Se der prazer, gemo. Se doer, grito, choro e vivo. Vivo a paz de estar só e a euforia do encontro. Bebo freneticamente, mas sei sorver a saliva de quem me apetece. Conto até vinte se preciso for, tudo para não quebrar o silêncio das batidas do meu coração. Estou muito mais na minha, mas também quero estar na dele vez em quando. Não invento, provoco sentimentos. Se for só um simples abraço, também fico feliz, assim como um beijo no rosto ou no olho, quero mais é me sentir bem-quista. Fantasio o sexo, lambo os sonhos e deliro sobre as vestes do meu bem-querer e nunca me senti tão bem assim. Isso é estar “amorando”, uma soma entre a paixão e amor-próprio, a possibilidade sob a impossibilidade. Está tudo ao alcance da mão e do coração, basta provar, sentir e cometer.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Marilyn no Vazio.


Ando tão vazia por dentro que ensaio um amor/paixão/caso pra mim de brincadeira. Essa minha mania de olhar bem dentro dos olhos das pessoas, esse encaramento descarado que qualquer dia ainda vai rolar uma resposta na cara, do tipo: - “Te conheço?!”. Realmente, não me conhece, nem eu conheço, mas gosto de olhar, imaginar quem são, do que vivem, essas coisas.

E como a falta é profunda estive a olhar pros caras e imaginá-los dentro de suas roupas de trabalho, paletó e gravata ou calça jeans e blusas de botão, e também olhar pros caras que parecem estar à passeio com seus bermudões de surf e suas camisas descoladas, ignorando o tempo chuvoso da terrinha, e andando assim a mil e por um fio, eu me coloco dentro da vida deles como uma personagem bem quista, amada, meio no cio, meio gata, meio pudica, meio delicada, sabe-se lá! Só sei que quando saio de casa de manhãzinha, meio tonta de sono meu sonho ainda está nos olhos e sigo de passo macio com uma cena aberta na cabeça: dois corpos nús na cama, o meu e o dele, a contar os gemidos de amor do nosso sexo...

E então buzinas me acordam. O caos urbano imperando na Presidente Vargas, os transeuntes se desviando desvairados e constato que continuo andando macio vagando por Belém como se os meus cinco minutinhos de surpresa da vida não fossem acontecer, desesperançosa, mas sei que só a expectativa é meio caminho andado para que algo, por mais simples que seja surja nessa minha vida novela mexicana-cinemanoir-peçaexperimental. Todo dia uma personagem diferente.

"Quando pinta um buraco na existência, você tem que tirar forças de dentro para poder colocar alguma coisa dentro daquele vazio."

(Paulo Leminski)