segunda-feira, 19 de abril de 2010

Sobre Concursos, Aspirinas e Pessoas.




Segunda. Cabeça ainda em baque regueado e é preciso produzir, compor algo que preste, algo que seja uma grande idéia, aquelas do tipo ‘último biscoito do pacote’. E a cabeça vazia.
Oito e meia e reunião. Pessoas e mais pessoas em volta de uma mesa que não é redonda e que não vai dar em lugar nenhum.
- “Uma grande idéia precisa nascer para participarmos do concurso do Diário”. Disse meu diretor amigável.
- “Vocês, pessoas, tanto do atendimento quanto da criação precisam trabalhar juntas. Unir forças pra gente trazer o prêmio pra casa”. Disse meu diretor agora enérgico, motivador.
Na minha cabeça só vinham as palavras: concurso, pessoas e aspirina por favor!
E eu também pensei em coisas do tipo:
- Como é que vamos criar algo incrível para clientes cabeça de azeitona?
- Qual é o prêmio mesmo?
- Tô vendo que vai ficar tudo nas costas da redatora: Eu.
- Grande idéia cadê você?
E eu olhava para os meus colegas de criação, completamente ausentes, quase mortos, mudos, aquela coisa de me-tira-daqui-por-favor, quase sabedores de mais um fracasso, mas é isso aí vamos dar o nosso melhor. Vamos ser criativos. A peça vai ficar do caralho, mas o cliente vai querer o feijão com arroz de sempre e a gente vai meter o rabo entre as pernas, não vai ganhar prêmio nenhum e vamos continuar com o nosso vale da cerveja do fim de semana e é isso. Sempre isso e o único concurso que talvez participemos e talvez sejamos aprovados é aquele de servidor público, do qual todo o publicitário tem medo de sucumbir, quase como morrer, como a criatividade se esvair diante do processo da vida, diante de nossas necessidades cada vez mais fúteis, de nossas mais assombrosas obrigações para encher nossos bolsos com o dinheiro que alimenta a sociedade paraense e nada mais do que isso.
Funcionários de um sistema sem espaço para o criar com mesas empilhadas de papéis burocráticos, envelopes pardos e tecnologia ruim. Sem computadores de última geração ou notebooks burgueses apenas a insustentável penumbra da burocracia em cima de nossas cabeças para sempre.
Deus me livre! Preciso urgentemente criar e ser reconhecida pra não virar uma frustrada mal amada funcionária pública com roupas formais em tons pastéis cercada de gente de roupa formal em tons pastéis e o TAC TAC do salto nos corredores.

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